publico uma resenha modelo do livro de contos de Dilan Camargo, O man e o brother, feita pelo também escritor - Caio Riter (ver perfil ).
Dilan Camargo é o autor do conto que estamos analisando "Pela ciclovia".
O man e o brother:
contos de dor e de prazer
Caio Riter
A literatura para
jovens, creio, tem seguido algumas estradas distintas. Todas, é certo,
pretendem ir ao encontro de juvenis corações. Todavia, o que cada uma delas
acrescentará ao coração do viajante que enveredar pelos caminhos da fantasia
que a leitura propõe já é outra discussão.
Ao se observar o
catálogo das melhores editoras brasileiras e, também, as listas de indicações
escolares, percebe-se que há livros para todos os gostos: aventura, mistério,
intimismo, fantástico. Existem livros que fazem pacto com a adrenalina:
histórias repletas de peripécias de tirar o fôlego puxam o jovem para dentro do
texto e só o devolvem, quando a aventura acaba, o mal é vencido, a harmonia
retorna. Outros livros enveredam pelo universo interior do adolescente,
dissecando problemáticas existenciais: o amor, o conflito com os pais,
situações de perda (morte, separação), a primeira transa, a primeira
menstruação. Enfim, todo o universo de situações que fazem parte do
amadurecimento e que estão sempre pulsando no coração de quem é jovem (talvez
não apenas nos corações juvenis).
O fato é que, hoje,
a literatura juvenil apresenta-se rica em nuances. Oferta histórias muitas,
oferece caminhos diferentes e ricos no incentivo à imaginação, à fantasia e,
também, ao olhar sobre si mesmo, na busca de entendimento do mundo que nos
cerca.
Assim, foi com
prazer (e também com um tanto de dor) que enveredei pelos recortes de uma
juventude meio perdida, meio sem perspectivas, que Dilan Camargo, em seu livro
de estreia na narrativa juvenil O man e o brother (Editora
8Inverso) oferece. São dez contos, dez histórias curtas, em que os
protagonistas, todos jovens desfavorecidos socialmente, vivem situações-limite.
Suas dores são expostas sem piedade, todavia são filtradas pela criação de uma
linguagem artisticamente elaborada, em que se percebe o cuidado do autor em
fazer de seus breves contos retratos pungentes do viver, sem, contudo, abrir
mão de fazer arte, de produzir literatura. Desta forma, os leitores não só se
depararão com a dor dos personagens, como poderão se deleitar com o estilo da
linguagem.
Em As
filhas do pedreiro, o leitor é colocado diante do sofrimento de um pai
diante da perda da filha. É no concreto armado em que ela perdeu a vida que ele
irá fixar a cruz que lembrará sua maior dor. Já em Pela ciclovia,
Dilan estabelece uma relação intertextual com a Bíblia, ao narrar a via crucis
de um garoto que roubou uma bicicleta. Todavia, diante da ordem da mãe, uma mulher
cheia de princípios, ele mesmo deverá carregar a bicicleta nas costas até a
delegacia, a fim de devolvê-la. Esses apenas exemplos do universo que o autor
arquiteta: personagens marginais ou marginalizados, cada um com a sua dor, cada
um experimentando aprendizagens que, caso não os façam amadurecer, no mínimo,
os farão ver o mundo sob outros olhares. Algo que, com certeza, o leitor, após
a leitura destes pungentes contos, fará também. Afinal, não é gratuita a
citação inicial da Canção do Tamoio, de Gonçalves Dias, cujos
versos afiançam que o choro não adianta, visto que “a vida é luta renhida:
viver é lutar”.
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