o texto abaixo é uma crônica memorável quanto à criatividade no uso das gírias atuais.O autor é o cronista do jornal Correio do Povo Juremir Machado da Silva.
Leia o texto, faça o registro no caderno através das questões, depois faça a sua produção de texto.
– Vaza.
– Puxa, cara, acabei de chegar. Só quero
ouvir como vocês falam agora. Preciso atualizar meu vocabulário. Sou jornalista
e professor, sabe como é?, preciso estar em dia com a língua das novas
gerações, essas coisas, saca?
– Vaza, tio.
– Também não precisa esculachar, meu.
Podemos ser bons amigos. Uma amizade presencial, forte, sem ambiguidades,
claro, numa boa, não essas amizades fakes do face, pô.
– Vaza, coxinha.
– Pô, cara, eu vim em missão de paz, não
sou daqui, a minha tarefa, digamos assim, é antropológica, sociológica,
jornalística, de coleta de dados, tá ligado?
– Nem ligado nem desligado. Já era.
– Não se diz mais tá ligado?
– Vaza, coxinha.
– Coxinha não é gíria paulista ou
paulistana? Carioca agora aceita falar gíria de paulistano? Ouvi dizer que quem
diz coxinha agora é mais coxinha ainda e que paulistano fala coxinha enquanto
carioca come coxinha.
– Se pá!
– Como?
– Talvez, tio, talvez. Essa você vai
entender: vai ver se não estou lá na esquina curtindo esse milgrau, vai.
– Milgrau?
– Rio, 40 graus, tio. Essa é do seu tempo,
não? Meu velho fala assim. Diz que isso é uma * referência cultural.
– Gostei. Teu pai é cinema novo. A chapa
tá quente.
– Essa já esfriou.
– Estou disposto a tudo, cara, para
entender como se fala agora. É um projeto pessoal de rejuvenescimento, saca?
– Você não tem roupa pra isso, tio. Vaza,
vai.
– Por que você está me trolando desse
jeito?
– Aí, tio, até que mandou bem nessa.
Acertou uma, hein! Que marra. Gostei de ver. Até que você não é completamente
coxinha. Mas precisa mudar a estampa também. Esse cabelo aí tá muito
sarna mesmo. Só que não!
– Sarna? Só que não?
– Só que sim.
– Dá um tempo, guri. Tu falas português?
– Deu ruim! Agora deu ruim memo.
– Que houve? Rolou alguma coisa que não
vi?
– Vou desenhar, tio. Vou soltar um
desarranjo. Aproveita que vai num jorro só. A novela é a seguinte: você não
consegue sensualizar o momento, não capta o instante sem filtro, não surfa no
asfalto, não devora a areia, não traduz a cor da onda, não anda fora da caixa
de vidro.
–
Fora da caixa de vidro?
– Saca o Papa, tio? O Papa anda fora da
caixa de vidro.
– Essa é novinha?
– Novinha é gata, tio, outra parada, vai.
Não mistura. Para entender o que rola, precisa divar. E você não diva, tio. Não
pode perguntar. Precisa pegar no ar, aspirar.
– Não divo, é? Essa gíria é dos lelesques?
– Ferrou de vez. Deu ruim total! Vaza,
vai.
–
Questões para serem feitas no caderno:
a- Nome do texto e autor:
b- Síntese do
fato.
c- Características de cada personagem.
d- Tipo de
linguagem usada e por quê.
e-
Intencionalidade do cronista.
Produção
de texto: Semelhante ao texto “Deu ruim” crie um texto em
forma de diálogo em que apareça a dificuldade de comunicação entre duas pessoas
pelo uso da língua culta e uso de gírias.
Sugestões: aluno x diretora, avô e neto, tia e sobrinho, magrão e
sogro, candidato a emprego x chefe do
setor de pessoal de uma empresa, etc...
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Pode ser uma música semelhante àquela estudada em aula, “Assum Preto” de Luiz Gonzaga, só que usando gírias em vez da linguagem caipira.
OBS: Passar no caderno de redação o texto.
Profª Elisete